Ulisses e o retorno do herói

Leitura

Capítulo “Ulisses ou a aventura humana”, em VERNANT, Jean Pierre. O Universo, os deuses, os homens. São Paulo, SP: Cia das Letras, 2010. 209 p.

Prólogo, em CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo, SP: Pensamento, 2007. 414 p. ISBN 9788531502941 (broch.)

A Odisséia

O retorno em fases como indicativo de diferentes combinações de aprovação / desaprovação divina, assim como de auto-conhecimento e equilíbrio do próprio Ulisses.

A mudança de alimentação como marca do estranho e do “outro mundo”: os comedores de lótus, os canibais, os ciclopes. A marca do alimento como divisão entre sagrado e profano novamente aparece no episódio dos bois de Zeus.

O episódio de “Ninguém” e o ciclope como a de-individuação e a astúcia encarnada de Ulisses. A satisfação do ego será depois punida terrivelmente pelo superego divino.

O encontro com Circe como prova e recuperação da juventude pós-provação. Ajuda divina.

Visita ao inferno: a terra dos sem-nome dos sem-rosto. Novamente, o tema da morte, do limiar, da perda da individualidade. Aqui encontramos também a ação e a aristea grega.

As sereias marcam o estágio do limiar e a negociação, sempre presenta na história de Ulisses, entre o conhecimento de vida e morte, o limiar da aventura e do retorno.

A oferta de Calipso: a imortalidade anônima, que apaga a ação e a individualidade de Ulisses. Ele vira um deus, mas tem sua aristea e dignidade apagada, num estado de contemplação próximo dos mortos no Hades. Novamente, aqui entra a negociação entre ego e superego.

Etapas da renegociação do retorno: apagar o corpo, reestabelecer o corpo, reconhecer o próprio passado (ele o reconhece e os outros), alterar o presente. É necessário provar a todos que ele é ele mesmo, apesar de mudado. Assim, ele retorna à presença do tempo histórico.

Campbell e “o herói de mil faces”

Estrutura do monomito

As chaves

Novamente, a evolução histórica do mito e sua transformação / deformação. Mudança de função de elementos dentro da história e criação de anedotas secundárias refletem mudanças societais e culturais.

Sempre que é objeto de uma interpretação que a encara como biografia, história ou ciência, a poesia presente no mito fenece. (p.244)

Pergunta: Como foi nossa interpretação até agora?

Para levar essas imagens a recuperar a vida, devemos procurar, não aplicações interessantes a temas modernos, mas indícios que nos tragam a luz do passado inspirado. Quando esses indícios iluminadores são encontrados, vastas áreas de iconografia semimorta voltam a revelar seu sempiterno sentido humano. (p. 245)

Os símbolos mitológicos devem ser seguidos em todas suas implicações antes de abrirem as portas que levam a todo o sistema de correspondência por meio do qual representam, em termos de analogia, a milenar aventura da alma. (p. 246)

O retorno

A recusa do retorno: depois de restaurada ou conquistada a transformação, o que mais resta?

A fuga mágica. Variações sobre a interdição da falha humana e da possibilidade de fracasso. A dificuldade como forma de representar a importância das forças afetadas.

Se o herói não deseja retornar, quem o forçar é punido. Se ele deseja retornar e foi chamado, ele será ajudado. O resgate com auxílio externo muitas vezes representa o auto-conhecimento do herói que evolui ao longo de seu retorno.

Tendo sua consciência sucumbido, não obstante, produz para seus próprios equilíbrios, e eis que o herói renasce para o mundo de onde veio. Em lugar de salvar seu ego, ele o perde, e , no entanto, por meio da graça, recebe-o de volta. (p. 213)

A passagem pelo limiar do retorno.

O herói tem de penetrar outra vez, trazendo a benção obtida, na atmosfera há muito esquecida na qual os homens, que não passam de frações, imaginam ser completos. (p. 213)

O “eu” na alteridade de uma dimensão esquecida e a necessidade de faze-lo retornar ao mundo em sociedade. O mito tem a dimensão normativa de dizer explicitamente qual escolha deve ser tomada (outras formas não se apresentam assim) (Bettelheim, Bruno). Afinal, são “modelos para o comportamento humano, que dão significação e valor a vida” (Eliade, Mircea).

O mito apresenta singularidades e reforça o indivíduo, a estruturação de seu superego em face a toda uma vida psicológica borbulhante. De certa forma, representa uma simbologia do conhecimento psicológico de uma cultura. O mito é pessimista. (Bettelheim, Bruno).

A dificuldade do herói em aceitar a banalidade da vida, depois de enfrentar e aprender com as trevas. A separação da terra e da condição terrena como marca da transcendência. A maestria sobre a transformação (o rito de passagem) não é frequentemente apresentado como um único símbolo, mas como um processo (p. 225)

Tema importante: a reconciliação da consciência individual com a vontade universal. Isso se resolve na relação existente entre os passageiros fenômenos do tempo, da jornada, e a vida que se repete imperecível. (p. 232)